"Afinal, o que é o Amor?"


Certamente cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, refletiu sobre o amor. Essa energia que movimenta toda a humanidade, muito mais preciosa que o ouro, e de cuja existência às vezes se duvida. É procurada nos outros, em nós mesmos, nos livros e, quando não é encontrada, leva à dolorosa sensação de solidão. Comecemos nossa reflexão vendo o que "não é amor". Há uma confusão muito grande entre o amor verdadeiro e um produto similar, chamado 'amor de troca', uma conduta usada como moeda, para dar direito a cobrar determinados comportamentos dos companheiros. Exemplo típico disso é a eterna cobrança:



"Eu sempre cuidei de ti, agora que preciso não te tenho comigo".




O amor é uma energia que cresce dentro de nós e nos convida a estar com o outro. Quando estamos em estado de amor, torna-se inevitável agirmos de forma amorosa. Portanto, o outro, no fundo, faz-nos um favor ao se deixar amar por nós. O amor não é um convite à infelicidade. Quando, numa relação, as pessoas se sentem amarguradas, convém refletir cuidadosamente, pois o amor é uma energia que impulsiona para a vida. Quando amamos alguém, sentimo-nos vivos e em sintonia com o Universo. Amar não é viver assustado, procurando adivinhar o que o parceiro quer, para obter sua aprovação, ou temendo o seu mau humor. O sentimento do amor dignifica-nos e dá-nos a verdadeira dimensão do nosso valor; faz-nos sentir que pertencemos à raça humana e que não somos simplesmente meros complementos um do outro. Amar não é ficar parado, como um rei, esperando que o outro, pelo facto de estar a ser amado, sinta-se devedor do nosso sentimento. 
O amor proporciona-nos uma sensação de gratidão para com a existência; um sentimento de ser abençoado pela dádiva divina. E, em retribuição, somos levados a cuidar desse amor. Amar não é simplesmente ter desejo sexual que, apesar de ser algo incrível, não é o único elemento do amor. As pessoas que vêem o amor como algo puramente genital geralmente acabam por empobrecê-lo. Amar é uma viagem a ser feita com alguém, na qual, ao mesmo tempo em que desfrutamos dessa entrega, desvendamos os mistérios que ela nos apresenta a cada momento. O amor é uma força que nos leva a enfrentar todos os nossos medos, criados desde as primeiras experiências dolorosas de aproximação. Torna-nos corajosos e ousados, prontos a desafiar o tédio e o comodismo, a enfrentar o desafio do cotidiano, sem o deixar transformar-se em rotina.
Proporciona-nos uma postura de aprendiz, concedendo-nos a suprema compreensão de que, quando somos levados pelo impulso do amor, realizamos algo. No amor, não nos estamos a submeter ao outro, mas sim a obedecer às ordens do sábio que existe dentro dos nossos corações. 
O amor nos dá coragem para enfrentarmos todas as mensagens negativas ouvidas na infância, do tipo
"homem não presta", "mulher é complicada", "casamento só traz sofrimento", que poluem os nossos pensamentos. Não podemos exigir a perfeição do ser amado, pois, como diz Aristóteles: "O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição". O amor é um convite a estar com o outro, porque, como diz Francesco Alberoni: "É um estado nascente de um movimento a dois; é um querer estar a compartilhar alegrias e dores, problemas e soluções com o ser amado". O amor leva-nos a respeitar a nossa própria individualidade e a do outro, pois, como diz Rajneesh:
"Viver é como o ciclo respiratório. Na inspiração entra-se em contato consigo próprio, é o estar só, é o momento em que se carrega o coração de energia, é a maturação do feto, a preparação do botão de rosa. E na expiração dá-se o encontro, o desabrochar do amor, o renascimento com o outro, o 'ser' com o outro. A respiração não é possível sem os dois movimentos. Precisamos da inspiração tanto quanto da expiração."
O amor é a força que nos torna guerreiros, sem revolta, pois, como dizia Eric Fromm: 
"Amar é comprometer-se sem garantias; entregar-se completamente, com a esperança de que o nosso amor produza amor na pessoa amada". 
O amor é uma viagem para dentro de nós, na busca de respostas que nos revelem o que não está certo conosco, mesmo que o outro esteja a ser desleixado com nosso amor. Porque, como dizia Antoine Saint-Exupéry:
"O amor é o processo em que você me mostra o caminho de retorno a mim mesmo".
A palavra amor é muito limitada para expressar a totalidade do seu significado e, por isso, ao procurarmos conceituar o sentimento, é inevitável que o limitemos. O amor é muito mais que o encontro de dois corpos, muito mais que a união entre duas pessoas. É a própria consciência da Existência: a crença nas forças divinas, que cuidam de todo o universo e que nos levam um ao outro, com a mesma fluidez com que aproximam uma nuvem de uma montanha, que nos proporcionam uma força sobre-humana, que dão energia ao vento, ao mar e à chuva e que nos tornam grandes como pinheiros gigantescos. No amor seguimos um caminho, realizando uma história, cujo final, apesar de todo o nosso conhecimento, só vamos saber quando a completarmos. A única certeza que temos é a de que o amor é uma condição inerente ao ser humano. Assim como a flor emana o seu perfume, o homem e a mulher naturalmente exalam o amor. Isso é tão inevitável quanto é impossível proibir a terra molhada de desprender o seu cheiro.

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